Projeto
TDAH é o tema central do primeiro trabalho solo de Alércio Pereira Júnior
Músico ex-Musa Híbrida lançará um EP e um documentário com composições que falam sobre o transtorno
Foto: Bruna Monteiro - Altabox Marketing Digital - DP - Será o primeiro trabalho do artista após o fim da Musa Híbrida
O diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) que recebeu é o tema central do documentário de curta-metragem intitulado Astronautas, Dinossauros, Hipopótamos ou Dragões (ADHD), do músico pelotense Alércio Pereira Júnior, ex-compositor, vocalista e instrumentista da banda Musa Híbrida. O projeto audiovisual, financiado pela Lei Paulo Gustavo, da prefeitura de Novo Hamburgo, está em processo de gravação, com previsão de lançamento para o dia 10 de outubro.
Além da produção audiovisual, que tem direção de Leonardo Peixoto e contará a relação de Alércio com o TDAH e como isso influenciou a sua trajetória pessoal e musical, o artista prepara o lançamento de um EP com quatro músicas – duas compostas antes do diagnóstico e duas após.
Alércio conta que mesmo as músicas que escreveu antes de saber que tinha (e descobrir o que era a sigla) TDAH já estavam relacionadas ao transtorno, o que foi percebendo no processo de composição após o diagnóstico.
É o caso de Postergar, que estará no trabalho solo, composta enquanto o músico buscava novos caminhos profissionais. “Ela já fala de uma dinâmica da minha vida, de postergar no máximo que dá e na última hora colocar uma energia estupenda, desestruturante e exaustiva para concluir alguma tarefa.”
O músico afirma que, após 12 anos do lançamento do primeiro álbum de estúdio da Musa Híbrida, está em uma fase diferente, mais madura, mas com o mesmo desejo de produzir coisas fujam do comum.
“Minha barba não tem mais um fio cor gris, como cantei lá atrás com a Musa, nem tenho mais barba. Tenho um filho pequeno, obrigações e deveres. A vida mudou muito”, afirma Alércio. “A gente saía com a Musa de carro para atravessar o país, contando moeda. O olhar para o trabalho, agora, tem outra maturidade, de conhecer atalhos e procurar caminhos que façam mais sentido de trilhar”, relata Alércio.
O processo de criação e produção tem diferenças, mas também semelhanças ao que fazia com a banda. “Na Musa era tudo muito caseiro. Nesse EP [que será lançado em streaming após a apresentação do documentário, em outubro], também gravei guitarras e baixos em casa. As vozes foram gravadas em estúdio, o que já era de praxe nos últimos discos da Musa. O que mudou é que eu passei a produzir, antes era o Vini [Albernaz] que produzia e eu dava um auxílio nos arranjos, com a [Camila] Cuqui. Dessa vez fiz tudo meio sozinho, pensar, arranjar e gravar o som. Decidi que teria som de bateria, na Musa a gente ia para o lado do eletrônico. Foi um desafio pensar esses arranjos, o fato de ser produtor é que foi diferente.”
A ideia de fazer o lançamento das músicas dentro de um documentário partiu do diretor Leonardo Peixoto, amigo de Alércio, devido ao fato de o músico, ao longo do processo de criação e produção, ter feito lives nas redes sociais.
“Pensei sobre o assunto, mas pra mim faltava algo de narrativa, não queria que fosse apenas um making of, que é legal, mas mais nichado. Lembrei das músicas que fiz antes e depois do diagnóstico do TDAH, e tive o insight que isso poderia ser o fio condutor”, conta Alércio.
O documentário consiste em imagens das gravações e criações de Alércio, além de entrevistas com o próprio músico e com quem participou desse processo e de sua psicóloga. O músico opina que o curta pode ajudar pessoas na mesma situação em que estava a se entenderem melhor e a procurarem ajuda.
Segundo ele, aconteceu no próprio set de gravação, enquanto o diretor Leonardo Peixoto o entrevistava ao lado do técnico de estúdio Lauro Maia e a baterista Emília Rodrigues, ambos amigos de Alércio e também diagnosticados com TDAH após adultos. “Um técnico nos procurou e disse que procuraria um psicólogo, pois se identificava com o que tínhamos falado.”
“Por isso dá muita vontade de falar sobre, para que outras pessoas que talvez tenham passado por isso sintam-se acolhidas e possam procurar ajuda para quem sabe ter uma vida mais conectada e afinada aos seus valores e às coisas que querem realizar”, acrescenta.
A descoberta do TDAH ajudou na própria evolução musical. “Agora eu estou começando a aprender a cantar, a soltar a voz e levá-la a outros lugares”, relata Alércio. “Quando descobri [o TDAH] eu vinha de um processo de depressão que não fazia muito sentido comigo. Estudar sobre isso explicou coisas da minha vida que eram incógnitas. Consegui ter outro olhar para mim mesmo e para o meu trabalho, e de fazer coisas que eu gostaria de fazer, mas não tinha capacidade de gerenciamento de tempo, de dispender a quantidade de horas que algumas coisas necessitam, porque eu era muito ímpeto, de criar, uma explosão de prazer, e depois eu não queria seguir trabalhando e refinando”, conta.
O projeto ADHD (iniciais da TDAH em inglês) conta com financiamento da Lei Paulo Gustavo, do município de Novo Hamburgo, onde Alércio mora atualmente. O apoio prevê o teto de gastos de R$ 60 mil. “Um orçamento enxuto, não dá para ser megalomaníaco ou mirabolante”, pondera o músico.
“A gente conseguiu chegar em uma estética que dialoga com o trabalho musical do Alércio. A expectativa é que a gente tenha um filme legal de assistir e divertido, que trata com consciência e sem esteriótipos este tema”, conclui o diretor Leonardo Peixoto.
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